Os Mandingas invadiram a Guiné-Bissau e fundaram o reino de Gabú (conhecido por império de Kansalá), vassalo do império do Mali no século 15.
O reino de Gabu (também conhecido por Kaabu, Ngabou ou N’Gabu) foi um reino mandinga que existiu entre 1537 e 1867 na região da Senegâmbia (centrado no actual nordeste da Guiné-Bissau mas estendendo-se à Casamança, no Senegal) que deveu a sua ascensão na região graças à sua origens como antiga província do império mali.
Após o declínio do império mali, Gabu tornou-se num reino independente.
O Presidente da ALAB – Academia de Letras e Artes da Guiné-Bissau foi agraciado com a Medalha Cruz Al Mérito Académico pela Academia International de Ciências, Tecnologia, Educação e Humanidades, com sede em Valência, Espanha.
A Academia AICTEH nasceu em novembro de 1990 no âmbito de uma Conferência do Conselho Mundial de Formação Profissional, desenvolvida na Escola Universitária de Engenharia Técnica Industrial de Valência, atualmente Escola Técnica Superior de Engenharia de Projetos e Engenheiros Aeronáuticos.
Em 1996, a Academia foi estabelecida com seus próprios estatutos.
Em 2002, de forma a se adaptar aos novos desafios impostos pela sociedade, os seus estatutos foram revistos de forma a incluir quatro ramos do conhecimento inter-relacionados e complementares, que constituem as suas atuais qualificações.
Suas cadeiras são ocupadas por Académicos da Espanha, Portugal, Marrocos, Itália, Bélgica e outros países, entre eles pessoas ilustres de reconhecido prestígio internacional como o Professor de Medicina Legal Sr. Luis Frontera Carreras, o Escultor Sr. Santiago de Santiago Hernández , o Prémio Príncipe das Astúrias pela Concórdia Senhor Joaquín Sanz Gadea e o ex-Vice-Presidente dos Tribunais Valencianos Senhor José Tovar Vicente.
Em julho de 2009, o Conselho Diretivo da Academia foi totalmente renovado, sob a Presidência do Prof. Doutor José Hoyo Rodrigo.
Tem como objectivos praticar e promover a inventividade e investigação nos órgãos de Cultura, Ciência e Tecnologia, Educação, Formação, Arte, Música, Humanidades, Novas Tecnologias, Construção, Energia, Hidrologia e Ambiente; Estudos e Investigação em População e Recursos Alimentares, Engenharia do Conhecimento e Inteligência Artificial, Geografia e História, Oceanografia e Ciências Marinhas, Transportes e suas infraestruturas, Ciência dos Materiais, Prospectiva, Globalização e Desenvolvimento Económico, Teleinformação Científica, Documentação Científica, Tecnologias da Informação, Social Comunicação e Desenvolvimento, bem como pesquisas sobre as origens, fundamentos e métodos das profissões.
Os papéis Segundo Américo Gomes (2016, p. 11), os papéis foram os primeiros habitantes de ilha de Bissau.
A hipótese mais aceita, segundo o autor, baseia-se na tradição oral e faz precederos papéis, habitantes de Bissau, aos biafadas. Segundo esta tradição, Mecau, filho de umrei de Quinara, andando à caça, chegou à ilha de Bissau. Gostou muito do lugar e resolveuaí instalar-se. Trouxe, depois, as suas seis esposas e também a sua irmã mais velha, jácasada. A irmã garantia-lhe a sucessão, de acordo com o costume matriarcal, segundo oqual é o sobrinho, filho da irmã mais velha e não o filho do rei, quem sucede ao trono. Mecauseria, pois, o primeiro rei de Bissau.Da sua irmã e das seis mulheres ter-se-iam originado as sete gerações(clãs) da etnia papel.Pungenhum, a irmã de Mecau gerou o clã Intchassu, no plural Bissassu, donde se teriaoriginado o nome Bissau. De fato, este clã ainda hoje habita na cidade de Bissau. Gomesdiz que os indivíduos desta geração se diziam bravos como a onça e por isso escolheram oapelido Nanque. Hoje tambémusam o apelido Ié. Ocupavam posições de mando: eram reis,fidalgos oudjagras mala. Uma das seis mulheres, gerou o clã Intsó (plural: Bitsó) que povoouBandim. As pessoas desta geração escolheram como totem o sapo – Có –porque sededicavam à agricultura, andavam metidos na água como os sapos. Intsoma outra mulher,gerou o clã Indjokomo, no plural Bidjokomo, que povoou o alto Crim. Tinham como totem ahiena – Cá – pois eram destemidos guerreiros, atacavam como as hienas.Djokom, a terceiramulher, gerou o clã Intsafinte, no plural Bitsafinte, que povoou Safim. Usavam como totem alebre –Té –pois diziam-se matreiros como a lebre. Kliker, a quarta mulher, originou o clã Iga,no plural Biga, que povoou Kliker (atualmente Calequir). Esta geração escolheu como totema cabra do mato – Sá –pois afirmavam serem rápidos como este animal. Intende, a quintaesposa, gerou o clã Intsutu, no plural Bitsutu, que povoou Mindara. Usavam como totem otimba ou urso formigueiro – Djô. Finalmente, Intchopolo, a sexta mulher, gerou o clã Intsalé(plural: Bitsale) que foi para Bissalanca. Esta geração escolheu como totem o macaco – Indi–pois eram hábeis para subir às palmeiras e extraírem o vinho de palma. Dos locais ondeviviam estes clãs, expandiram-se depois para todos os pontos da região, sem discriminaçãoterritorial. (GOMES, 2016, p.11).De acordo com Gomes era considerado incestuoso o casamento entre indivíduos do mesmoclã ou geração (em crioulo, djorson) e, por isso, o casamento tinha de ser exogâmico, isto é, entre indivíduos de clãs diferentes. Quanto aos apelidos, inicialmente eles eram os dageração da mãe, mas mais tarde passaram a ser usados os da geração do pai. OdeteSemedo (2010) diz que os portugueses pagaram tributo aos régulos papeis até finais doséculo XIX, altura em que impuseram o pagamento dos impostos de cabeça e de palhotaaos nativos. Segundo a autora, o nome dessa etnia estaria ligado ao relacionamento difícilcom o colonizador. Os habitantes da ilha de Bissau, muito rebeldes, nunca quiseram pagarimpostos de palhota e de cabeça impingidos pelos colonizadores e sempre que recebiam anotificações de pagamento, levavam o ‘o papel’ diretamente à administração, reclamandoserem eles filhos do chão (terra) e por isso não deveriam pagar nada. Assim, sempre que oshomens apareciam, os brancos exclamavam: “aí vêm os homens do papel! ”.
E o nome ficou Revista África e Africanidades – Ano XI – n. 26, abr. 2018– ISSN 1983-2354www.africaeafricanidades.com.brRevista África e Africanidades – Ano XI – n. 26, abr. 2018– ISSN 1983-2354www.africaeafricanidades.com.br
Quem passou essa informação para Odete Semedo foi a tia Maria Nank, uma das suas informantes. Na língua local (papel) esse grupo se autodomina ussau; os papéis de Biombose autodenominam yum.
O significado e as razões que sustentam o casamento tradicional (k´mari) entre os papéis da Guiné-Bissau De acordo com Có (2010), o ritual de passagem mais importante das mulheres papéis é ocasamento tradicional (k´mari) e espera-se que toda mulher dessa etnia passe por ele.Segundo Einararsdottir (2004), caso a mulher não passe pelo casamento tradicional papel,não será devidamente enterrada, o que acarreta consequências negativas durante a vida eaté após a morte. O marido (ou o seu herdeiro)3, ou qualquer homem que tenha pago o preçoda noiva por uma mulher é responsável por realizar ‘a cerimônia de bater o bombolom’ (tocatchur) para ela. Sem a realização desta cerimônia, segundo a autora, a alma de uma mulhernão poderá se instalar no outro mundo.9 O casamento tradicional (k´mari) pode mais tarde ser reforçado ou não com o casamentocivil, dependendo da decisão dos noivos. Uma mulher casada deve ser enterrada na casade seu marido (morança) e ele deve providenciar tudo que for necessário, como o véutradicional de noiva, fabricado em pano de pente (pano di penti)4, coveiros, esteiras(ondjenzsem)5para a realização desta cerimônia fúnebre. Có (2010) diz que é o sonho detodas as mulheres papéis, terem um ritual fúnebre especial que demonstre a sua grandezae respeito perante a sociedade papel.Ainda segundo Einararsdottir (2004), o marido (ou seu herdeiro) herda pertences particularesda finada, tais como vestimentas e ornamentos, armazenados em sua mala. SegundoBomebu, uma de nossas entrevistadas, uma das principais razões que sustentam a práticado casamento tradicional para as mulheres papéis “é deSeguir os ancestrais […], e quando a mulher papel não se casa tradicionalmente éconsiderada como ‘ninguém’, sem respeito. Elas se casam certamente para garantir esserespeito na família e na sociedade”, pois deixam de ser badjuda e/oum´pili (menina ou moça)e passam a ser mindjer e/ou neguine (mulher).As seis mulheres entrevistadas estão casadas no tradicional (K´mari) e nenhuma delas estácasada no civil6, nem no islamismo ou mesmo no cristianismo. Das seis, cinco casaram delivre vontade e uma foi forçada pelos seus pais. Vale notar que as mais novas, as que vão à escola, nem sempre aceitam se casar com o homem escolhido pelos pais eparentes (casamento arranjado) e há quem defenda que nunca se deve forçar uma filha ase casar com um homem que ela não gosta Quando perguntadas sobre as principais consequências do casamento tradicional, tantopara aquelas que são forçadas a casar tradicionalmente como para suas famílias asrespostas variam. Umas dizem que tem consequências positivas e outras dizem que temconsequências negativas. A Bomebu, por exemplo, diz que a mulher deve escolher o marido,“mas as vezes dá certo quando o noivo é escolhido pelo pai da noiva”.Tem consequências negativas porque se a mulher for forçada para casar, após o casamento elapode recusar e voltar com o seu namorado [escolhido por ela]. Nesse caso ela não poderá casarcom o seu namorado no k´mari porque casamento tradicional é só uma vez e se por ventura a mulhertiver filho com o namorado, esse filho vai pertencer ao marido tradicional. (ABIRO UEN LO).De uma maneira geral, a verdade é que algumas mulheres fogem antes ou depois docasamento. Das que fogem, umas conseguem dar continuidade aos seus estudos e outrosprojetos de vida. Entretanto, uma vez na escola, há aquelas que acabam ficando grávidasprecocemente, seja com colegas da escola ou não. Das que não fogem, umas casamdevidamente e preferem acreditar que com o tempo vão aprendendo a amar o maridoarranjado. Vejamos o que diz umas das entrevistadas da Junina: “Tive sorte, estive casadacontra a minha vontade e meu casamento é bom “.De fato, os pais com mais frequência do que as mães preferem arranjar homens de suaconfiança a se casarem com a filha, mas as meninas que escolhem seus próprios maridosnem sempre são tão sortudas, pois elas podem descobrir que seu marido é um feiticeiro, ouela acabar não gostando da família do marido. Quando perguntadas as nossas entrevistadasno que consiste o casamento tradicional, as falas das nossas entrevistadas foram quaseunânimes e muitas delas afirmaram que consiste em seguir a tradição dos ancestrais egarantir respeito na sociedade e na família que um jovem migrou para o Senegal ou para o interior da Guiné-Bissau a fim de ganhar odinheiro necessário para financiar o preço de noiva (EINARARSDOTTIR, 2004, p 35). Pela sua importância, vejamos como a Bomebu, nossa entrevistada, fala das principaisetapas do casamento tradicional: para dar à família da menina. O noivo João e vários parentes da linhagem do seu pai, foi atéo apartamento da noiva para buscá-la. A autora acrescenta que no ato da cerimônia docasamento a noiva sentou-se de joelhos na frente do Irã (espírito) e em seguida o João foibuscá-la. O noivo e sua família despiram a noiva e em seguida o João veste à noiva (bistimindjer) com um pano de pente. A noiva foi levada para sua aldeia, mais um porco, umagalinha, um cão foi abatido e deixado com sua família, juntamente com o vinho. Joninaprossegue dizendo que a noiva permaneceu no quarto com uma anciã, que ungiu a noivade óleo de palma vermelha no peito e só quando as festividades e todas as cerimôniasterminaram é que ela tomou banho e tirou um pouco de cabelo da noiva.No geral, segundo as nossas entrevistadas, as mulheres papéis sonham e/ou desejam secasar tradicionalmente para seguir os seus ancestrais e garantir respeito na sociedade, umavez que a mulher passa a assumir um papel importante na sociedade. A verdade é que sóa partir do momento em que a mulher se casa é que começa a participar dos momentos decisórios na comunidade. Rituais fúnebre diferenciado entre mulheres casadas e não casadastradicionalmenteA etnia papel da Guiné-Bissau, valoriza as tradições culturais no que diz respeito à realizaçãoda cerimônia fúnebre, tanto para os homens assim como para as mulheres. Em seu trabalho,Có (2010) nos traz à tona duas questões: como é realizada esta cerimônia? E, por quê éque todas as pessoas, sobretudo as mulheres, preferem ter ritual ao seu agrado? No textocitado o autor procura dar mais ênfase no protagonismo àquele que consegue geralmentecumprir com todas as fases exigidas. Daí que o autor fala de Ondjenzsem(cerimônia fúnebrede uma pessoa casada) eOnbamssam (cerimônia fúnebre de uma pessoa não casada). Aosolhos da sociedade, segundo Có (2010), a cerimônia das pessoas (homens e mulheres) quenão cumpriram o ritual de k´mari, não é realizada com grande protagonismo tal como comaquelas que conseguiram cumprir com esse ritual. Quando uma pessoa casada no k´mar, morre é sacrificada uma cabra, e o sangue dessa cabra e a farinha de arroz da terra sãoderramados no túmulo da pessoa falecida.Carlos Humberto Butiam Có diz que é o sonho de praticamente todas as mulheres papéisterem um ritual fúnebre digno e especial para demonstrar a sua grandeza e respeito perantea sociedade papel.As nossas entrevistadas são unânimes em reconhecer a importância de se fazer umadiferenciação entre o ritual fúnebre das mulheres casadas e não casadas tradicionalmente.Segundo elas, é feita essa diferenciação da cerimônia fúnebre para mostrar que a mulhercasada tem mais respeito em relação à não casada tradicionalmente, por isso a casadatradicionalmente é enterrada de um modo mais especial, no ato dessa cerimônia é usada aesteira ondjenssem na cova e para as não casadas é usada a esteira mais simples chamadaombanssam.A mulher casada tradicionalmente tem mais respeito na sociedade.
Rituais fúnebre diferenciado entre mulheres casadas e não casadastradicionalmenteA etnia papel da Guiné-Bissau, valoriza as tradições culturais no que diz respeito à realizaçãoda cerimônia fúnebre, tanto para os homens assim como para as mulheres. Em seu trabalho,Có (2010) nos traz à tona duas questões: como é realizada esta cerimônia? E, por quê éque todas as pessoas, sobretudo as mulheres, preferem ter ritual ao seu agrado? No textocitado o autor procura dar mais ênfase no protagonismo àquele que consegue geralmentecumprir com todas as fases exigidas. Daí que o autor fala de Ondjenzsem(cerimônia fúnebrede uma pessoa casada) eOnbamssam (cerimônia fúnebre de uma pessoa não casada). Aosolhos da sociedade, segundo Có (2010), a cerimônia das pessoas (homens e mulheres) quenão cumpriram o ritual de k´mari, não é realizada com grande protagonismo tal como comaquelas que conseguiram cumprir com esse ritual. Quando uma pessoa casada no k´mar
O ritual fúnebre dessa mulherserá feito de um modo especial, usando uma esteira, chamadaondjenssem e depois de cobrir a covaquebram o pote feito de barro para demonstrar que a mulher foi casada em vida. Já o ritual fúnebreda mulher que não passou pelo k´mari é feito de uma forma simples.
No passado não se usava nadana cova, mas hoje em dia depende da decisão de quem está dirigindo o ritual fúnebre. Caso seja doconsentimento do mesmo, o oficiante da cerimônia põe a esteira por de baixo do corpo chamadaonbamssam. (BONHONIN).Segundo Jonina Einardosttir (2004), é considerado vergonhoso para os pais ter que enterraruma filha solteira e ‘não adulta’ (badjuda). Uma mulher papel que nunca se casoutradicionalmente (k´mari) será tratada como uma menina solteira, ou seja, badjuda,independentemente de ser mãe ou não. Além disso, as filhas de uma mulher solteira não,podem casar de acordo com o a tradição cultural papel. Jonina nota que as mães não só sepreocupam com os casamentos de suas filhas, mas também com o de seus filhos, pois paraos papéis os principais ritos de passagem são o fanado (para os homens) e o k´mari (paraas mulheres). A Abiro Uenlo, a Ndjimé e a Bomebu, nossas interlocutoras, defendem que énecessária a realização do casamento tradicional da mulher depois de morta, isso caso emvida a defunta não tenha sido casada tradicionalmente. O que acontece é que caso a mulherpapel não se case tradicionalmente, seja em vida ou não, caso tenha filhos (as), os mesmosnão poderão se casar tradicionalmente.Se uma mulher não for casada, caso tenha filho (as), não poderão casar-se porque a mãenão casou-se tradicionalmente. É com base nisso que é necessária a realização docasamento tradicional da mulher depois da morte. Isso faz com que os filhos se preocupemcom a realização do casamento da mãe depois da morte. Assim, permitindo que a futuramãe tenha acesso também à cerimônia fúnebre especial de casadas. (BOMEBU).O casamento tradicional (k´mari) desempenha um papel considerável para as mulheres dasociedade papel. A mulher só passa a ser respeitada a partir do momento em que passa pelo casamento tradicional e o papel do k´mari seria o de atribuir à mulher cidadania,dignidade e respeito na sociedade.
O casamento tradicional tem grande papel e importância, de modo que com o casamentovocê ganha respeito na sociedade e lugar de prestígio, por exemplo, em algumas cerimôniassó podem participar os casados a entrada dos solteiros naquele recinto é barrada. (NDJIMÉ).Einarsdottir (2004) afirma que uma mulher papel que nunca se casou de acordo com ocostume ritual de seu povo, será tratada como uma menina solteira, a chamada (badjuda),por toda a sua vida, mesmo que ela tenha filhos. Além disso, as filhas de uma mulher solteiranão podem casar de acordo com a tradição cultural papel. A aliança matrimonial legitimadapela tradição, segundo uma de nossas entrevistadas, desempenha um papel relevante nareprodução social da sociedade papel, que se transmite de geração para geração.O papel do matrimônio na reprodução social da etnia papel é muito importante, de modo queas mulheres seguem a tradição dos ancestrais, dos seus pais que passa de geração parageração, reproduzem o mesmo ritual assim sucessivamente. Até na situação da morte antesdo sepultamento e feito o matrimônio tradicional da mulher que em vida não conseguiu secasar tradicionalmente, para que possa permitir a continuidade dessa reprodução.(BONHONIN).As entrevistadas também afirmam que o casamento tradicional contribui para a educaçãodas mulheres, pois trata-se de um rito de passagem. Elas dizem que os ensinamentosrecebidos durante o processo ritual do casamento contribuem positivamente para a boaconvivência entre marido e mulher, pois “os anciões aconselham a noiva a ser uma boamulher, a respeitar e ponderar o marido. ” (BIKINHO´RI)O casamento tradicional contribui na educação, porque no ato do casamento os anciãoseducam em forma de conselho, entre os quais tratar bem o marido, sempre seguindo ospassos do marido e não o ultrapassar, etc. Por outro lado, se no caso a mulher não secontentar com qualquer ação do marido, ela deve chamar os anciões para fazer uma reunião.(NDJIMÉ).Quando perguntadas se achavam que existem mudanças do jeito que o casamentotradicional era feito antes para como é feito hoje em dia e se essas mudanças alteraram ovalor do casamento tradicional (K´mari), as respostas variaram. Muitas reconhecem que ocasamento tradicional tem passado por mudanças consideráveis, mas algumas acreditamque não mudou tanta coisa.Tem mudança sim, porque nos tempos mais remotos no ritual de casamento as mulheres tiravamcabelo e ficavam careca, ficavam só dentro do quarto para servir o marido, não saíam nem para irao mercado, e se ungiam com azeite de dendê durante um ano, mas agora essa prática não éverificada. (BOMEBU).A Bonhonin, uma de nossas interlocutoras, afirma que essas mudanças alteram o valor docasamento tradicional (k´mari).Antigamente as mulheres raspavam todo cabelo e ficam carecas, mas nos dias de hoje só tiram umpouco de cabelo. Isso não é normal. Em um casamento tradicional (k´mari) a mulher deve tirar todocabelo para que o ritual se torne completo. Porque raspar todo cabelo significa que a noiva está sedespedindo do cabelo de menina (badjuda). Após o casamento cresce novo cabelo, já de mulhercasada (mindjer). (BONHONIN). brA afirmação da Bonhonin faz sentido, pois em processos rituais de muitas tradições culturais,em especial nos ritos de passagem, o corte de cabelo é “como sinal externo de separação[…] indicando a entrada no período preliminar” (SUBUHANA, 2001, p.52). O corte de cabeloda noiva papel indica a sua separação e/ou saída da sua família para a família do noivo.Segundo Pires (2013) o cabelo que nascerá estará representando a nova relação familiarque está se iniciando.A festa do casamento tradicional (k´mari), de uma maneira geral, “é uma festa muitodivertida” (BONHONIN).Durante a festa parentes e amigos dançam, brincam e muitas vezes é consumida muita bebida emuita comida. Na festa os amigos e familiares dançam, brincam e é comprada muita bebida e muitacomida. A minha em particular foi uma festa muito divertida. Eu estava muito feliz. Casei durante agravidez do meu filho primogênito. (BONHONIN) Quando perguntadas se o casamento (k´mari) ocorreu do jeito que elas gostariam que fossee com o homem que gostariam de se casar, cinco (5) responderam que, de fato, foi com omarido que gostariam que fosse. Uma respondeu que foi contra a sua vontade, pois ela secasou com um marido arranjado pelos pais.Sim foi do jeito que eu gostaria que fosse e foi com o marido que de fato gostaria que fosse porque era o meu namorado desde adolescência. (BONHONIN)
Os mandingas (em mandinga: Mandinka) ou Malinke (também conhecidos como Maninka, Manding, Mandingo, Mandenka e Mandinko) são um grupo étnico da África ocidental, com uma população estimada em 45 milhões de pessoas.
Os mandingas são remanescentes do Império do Mali, o qual foi fundado no século XIII pelo Mansa Sundiata Queita. Migraram para o oeste, através do rio Níger, em busca de melhores terras cultiváveis e oportunidades de conquista.
São originários do atuais Mali, Gâmbia, Guiné, Serra Leoa, Senegal, Burquina Fasso, Libéria, Guiné-Bissau, Níger, Mauritânia e Costa do Marfim. Apesar de dispersos, os Mandingas constituem o maior grupo étnico no Mali, na Guiné e em Gâmbia. A queda do Estado de Gana baseada no conselho dos anciões pela invasão Almorávida (séc. XI), possibilitou o surgimento do Império do Mali (1235) após a Batalha de Kirina entre os Susso (liderados pelo Soumaorou Kanté), e os Mandé (liderados pelo Madi Diatta – Sundiatta Keita). Esse último organizou um sistema político e econômico inserindo elementos da cultura Islã-Árabe, presente na sucessão patrilinear e poder centralizada dos árabes do Norte de África (GONÇALVES, 1961). Em 1537, os Mandinka, provenientes do poder central do império do Mali, invadiram Senegâmbia e fundaram o império de Kaabu, também conhecido como Ngabou ou N’gabu. Esse reino era constituído por diversos povos, dentre os quais destacava-se o povo Mandinka (DJOP, 2013). O Tiramakhan Traoré conquistou as terras do lado Oeste desse império (Mali), enquanto o fiel general do Mansa Madi Sundiatta Keita, afundou o Kanta Kaabú. O Reino de Kaabú compreendia as terras dos países da Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamansa, ao Sul do Senegal. E tinha o embrião do poder Kansalá (centro político), situado na atual região Norte de Gabu, província leste da atual República Guiné-Bissau (LOPES, 1999). O império do Mali conhecido também como império dos Djalis Mandé (cantores Mandinga) – sofreu uma forte ruptura com o surgimento do reino independente do Kaabu no século XVI, após o declínio do poder central – constituindo, assim, um Estado autônomo com poderes próprio e governado por um Mansa (rei) chamado Sama Koli conhecido como Kaabu Mansabá ou Farim Kaabu, neto de Tiramankhan Traore. Os Mandinka detinham grande poder político e cultural sobre todo o território de Kaabu. Confiavam os poderes divinos aos Djalan (forças dos seus ancestrais) espalhados pelas quatro principais cidades do império – Kankelefá, Kabintum, Kansalá e Samakantentensuto. As três primeiras eram as principais cidades natais dos Mansas que governaram o império de Kaabu durante esse período. Mapa com referências sobre o território mandinga A estruturação social era feita de Kóntôn’nu, Kordalu e Kabílôlu. Os ferreiros, cantores e caçadores também eram muito importantes na hierarquia social Mandinka desde o início do império. Kóntôn’nu são sobrenomes das diferentes famílias que faziam parte do império tais como – Sani, Mané, Sonco, Djambam e vários outros. Já o Kordalu é junção das famílias de diversos sobrenomes que viviam lado a lado e constituíram um laço de vizinhança como se fossem famílias de raiz. O Kabílolu são gerações que compunham o Império. Durante esse período passaram os reinados de Sama Koli, Mama Cadi Sani, Mansa Bacari e até o mais notório e último rei do império de Kaabu o Mansa Mama Djankè Wali. Segundo Lalo Kebba Drammeh, Mama Djankè Wali foi um rei Mandinka que teve um reinado repleto de valentia e bravura. Ele era muito querido pelo seu povo. Nasceu na cidade de Kabintum, dentro de uma das províncias do reino de Kaabu. Quando chegou a sua vez para subir o trono e governar Kaabu, era necessário passar pelas aprovações dos quatro principais Djalan em diferentes cidades do império. Era um ritual que todos os Mansas faziam antes de assumir o trono. Este ritual foi acompanhado pelos mestres Mandinka, sábios das diferentes dinastias e as pessoas comuns junto dos cânticos da honra e fidelidade a um Mansa. (Hoje os rituais dos Djalan não existem na etnia Mandinka devido a sua islamização.) Wali manteve a dignidade e respeito do povo Mandinka e os protegeu durante o seu reinado. Constituindo um exército com homens fiéis ao governo e ao povo, acabou com as ameaças de outras etnias, pacificou o império e deu segurança ao seu povo durante o seu reinado. Mapa com Mansa Musa No início do século XIX, o reino Mandinka se envolveu numa divergência com a etnia Fula que já se encontrava islamizada, e começou a fazer contato com os territórios não-muçulmanos que habitavam a “África Ocidental”. Em 1867, um reino Fula chamado Futa Tooro, desencadeou uma guerra contra o império Mandinka com dois propósitos: 1- dominar os Mandinkaa obrigando-os a pagar Námô (imposto); 2- iniciar uma Jihad contra o império de Kaabu com o propósito de convertê-los em muçulmanos. Esta batalha foi conhecida literalmente como a “Guerra de Kansalá”, mas a denominação Mandinkaa atribuída a essa batalha foi Turbam kelò, que significa “a guerra do fim da geração”. As forças islâmicas Fulas sitiaram a capital Kansalá durante 11 dias numa batalha tensa. O exército do Mansa Djankè Wali enfrentou os Fulas para salvar o Império. Havia batalha em diversas frentes nas diferentes cidades. Os Fulas conseguiram dominar várias cidades e pequenos reinos – isso se deu porque o seu exército era mais numeroso do que o dos Mandinka. Quando chegaram à capital do império, onde residia o Mansa, não conseguiram violar a grande cerca que protegia a entrada. Emboscaram por alguns dias no exterior do Kansalá em quanto estudavam as estratégias de controlar o exército Mandinka. Na madrugada do décimo primeiro dia, abriram novas ofensivas contra Kansalá em quatro frentes, intensificaram-se as trocas do tiro entre os Exércitos com armas de fogo até o final da tarde do mesmo dia – numa altura em que o exército do Mansa Mandinka viu-se fragilizado pela falta da munição e não conseguiu se sobressair à força do exército inimigo. Morreu o Mansa e, o resto do seu exército e a população que se encontrava dentro da cerca do centro político (Kansalá). O Mansa preferiu acabar com o seu reinado de forma heróica e evitar uma captura para não se tornar num escravo ou prisioneiro do exército inimigo. Dessa forma, chegou ao fim o histórico reino de Kaabu. Nos dias atuais, na cidade de Kansalá, um pouco afastada do centro de atual cidade de Gabú, ainda é visível alguns vestígios que simbolizavam a grandeza e a estruturação da capital desse reino.
Referências Bibliográficas
Uma tradução feita da obra musical de músico e historiador tradicional Mandinga, Lalo Kebba Drammeh. Considerado uns dos maiores tocadores de kora, Lalo Kebba Drammeh foi um artista e conhecedor da cultura mandinga nascido em Kwenela. DJOP, Pate Cabral, Os três irmãos: o sanguinário ficou em Bissau e os dois foram para Gâmbia e Senegal. 2013. GONÇALVES, José Júlio. O islamismo na Guiné portuguesa: ensaio sociomissionológico. Lisboa: Tipografias Silvas, 1961. LOPES, Carlos. KAABUNKE: Espaço, Território e Poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamance Pré-coloniais. 1ª ed (Trad. Maria Augusta Júdice e Lurdes Júdice). Lisboa: Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1999.
O nome abalanta (que significa os que refutam) foi atribuído pelos bmindes (mandigas) por volta do século XV. Os balantas atribuíram o nome de brassé ou brassá dependendo de variação linguística.
Na etnia balanta, existem duas grandes correntes chamadas Kuntoé e Nhacra. Dentro do grupo dos balantas, em geral, há outros ramos chamados de balanta patch e nagha. Pode ser que a origem de balanta patch tenha relação com uma tabanka (aldeia) cujo nome é patch, porém não residem só nesta aldeia como os nagha. “Por tradição oral, vive entre os balantas da Região de Nhacra, di-los descendentes duma ligação de mulheres-papeis com homens-biafadas levada a efeito nas localidades de Dugal e Nague, primitivas povoações do território. E, em verdade, Dugal significa em Biafada, ″hóspede″; enquanto que a palavra ″Biafada″, em língua balanta, designa o irmão, filho do mesmo pai.
(SIMÕES, londerset. Babel Negra, Comércio do Porto: 1935).
Segundo Ttchogue Rith, 2013, Balanta Kuntoé está na margem direita do rio Mansoa que atravessa a Guiné-Bissau de centro para oeste. Balanta Nhacra está localizado na margem esquerda do rio Mansoa. Concentra-se na zona sul do país concretamente na região de Tombali que possui quatro grandes setores (Catió ″Capital″, Cacine, Bedanda e Quebo), com maior parte da população balanta porque emigram de norte para oeste e de Oeste para o Sul. O fator primordial da emigração de Balanta Nhagra para o sul do país ocorre por conta da procura de melhor solo para agricultura de arroz.
Os balantas eram os maiores produtores de arroz na Guiné-Bissau. Isso não significa que os Kuntoés não migrem. Na verdade, eles migram menos em relação aos Nhacras.
Os Kuntoés se concentram na zona norte do país junto com outros povos que pertencem a outras etnias (mandingas, mancanhas, etc) e praticam a mesma atividade de agricultura como sendo Balanta ou Nhacras.
Aldeia balanta – Foto de Virginia Maria Yunes COMPOSIÇÃO DA FAMÍLIA
A família é uma das bases em qualquer sociedade. Sempre digo que não há sociedade sem indivíduo e não há indivíduo sem família.
Em qualquer região do país, os balantas formam um laço familiar forte. Nas zonas rurais do país sempre há muitas tabankas e moranças onde vemos fortes laços familiares entre si e a vizinhança. Tabanka é um conjunto de moranças formadas de diferentes famílias que residem num determinado espaço ou região. Morança é um conjunto de casas familiares que é rodeada por um círculo ou em forma triangular, cujos moradores são da mesma família paternal ou descendentes de um avô. E suas identidades são impetuosamente preservadas e estabelecidas por um determinado nome atribuído pelo pai. Com o nome dado pelo pai, o filho passa a se identificar como sendo da tal morança. A morança possui o nome do pai (responsável pela família) de modo que os filhos, netos e bisnetos possuam o mesmo sobrenome de seus pais (nome do avô). Com exceção das filhas. Alqueia (significa não há alguém, ou alguém não está) é um nome próprio. A palavra Na é a preposição de. Pois a sua função é a ligação de nome Alqueia para o sobrenome Iana, que é o nome da família pertencente (que significa, por favor). As filhas não possuem o sobrenome dos irmãos porque elas serão casadas pelas outras pessoas que não fazem parte de família real (Na Iana). Por isso, não podem adquirir o nome familiar. Quando as mães casam não permanecem na casa dos pais. Elas são chamadas de padida em crioulo (guineense). Em balanta, chamamos bdé, que possui significado (nascida). Porém, a preposição Na não é comum para todo balanta porque na zona de norte da região de Oio, os Balantas Kuntoé e Nhacra que ali habitam não são identificados diretamente através da preposição acompanhada de sobrenome, mostrando que são pertencentes de tal morança. Como no caso de preposição Na. Podemos constatar que o nome Womna (que significa comam) que provém do verbo “comer”, é o nome próprio, e Yufa (que significa abutre) é sobrenome. Esse nome Womna Yufa vem acompanhado de sobrenome sem a intervenção da preposição Na, que deveria ser o elo entre os dois substantivos. Entretanto, podemos afirmar que nem todo balanta possui essa preposição que faz a ligação entre nome e sobrenome. Ambos têm algo em comum que é a identificação de indivíduo a partir de sobrenome que os caracterizam como filho de tal morança.
Referências
RITH, Ttchoge; 2013. Blog Intelectuais Balantas na Diáspora SIMOES, Landerset., 1935. Babel negra: etnografia, arte e cultura dos indígenas da Guiné.
O arquipélago dos Bijagós, composto por cinquenta e três ilhas, ilhéus e ilhotas, está situado entre 100 45´ e 110 35´ de latitude norte e 150 35´ e 160 30´ de longitude oeste, na costa ocidental da Guiné-Bissau, no oceano atlântico. As dezanove (19) ilhas – Bubaque, Ganogo, Meneg, Orangozinho, Rubane, Sogá, Orango-Grande, Uno, Uracane, Eguba, Canhabaque, Formosa, Ponta, Maio, Caravela, Caraxe, Unhocomo, Unhocomozinho e Galinhas. São habitadas por cerca de 15.000 pessoas chamadas Bijagós em língua portuguesa, Após independência de 23 de Setembro de 1973 foi dividido em três sectores com funções administrativas: Bolama, Bubaque e Caravela (posteriormente o sector de Caravela foi dividido em dois, Uno e caravela), pertencentes à Região de Bolama/Bijagós, com capital em Bolama, na ilha do mesmo nome.
O primeiro registo referente ao povo Bijagós data de segunda metade do século XV. De facto no mapa do italiano Gracioso Benincassa (1471) estão desenhadas algumas ilhas chamadas nessa época Ussamansa, Buamo e Buauo que tinham sido descobertas catorze anos atrás, em 1457, pelo navegador Veneziano Alvise de Ca`Damsto, durante a sua segunda viagem a costa ocidental africana, acompanhado pelo navegador Genovês Uso de Mare. A descrição das ilhas foi pela primeira vez encontrada num manuscrito italiano do século XV.
No tratado breve dos rios da Guiné, escrito em 1594 pelo capitão de armada André Álvares d`Almada, Luigi Scantamburlo cita (Silveira, 1946), os Bijagós eram descritos como hostis e guerreiros continuamente em luta não só em relacção ao povo vizinho os Beafadas, mas também entre si, umas ilhas contra outras. De Buauo ou ilha de infante (P.), poderiam ter estado ligados ao continente numa época remota. Para ele o isolamento deste povo em relacção aos outros da costa da Guiné constituiria a principal causa das diferenças entre língua falada no arquipélago, a dos Brames e dos Beafadas, assim como outros povos do interior da guiné.
A origem do povo Bijagós é ainda uma questão em aberta. Ao longo dos séculos, diferentes autores tentaram formular várias hipóteses registadas cronologicamente de seguinte forma:
Segundo Scantamburlo, no século XVIII – entre vários autores durante este século mencionaram o povo Bijagó, encontram-se Frei André de Faro, em 1664 Scantamburlo cita: (Silveira 1945); De La Croix (1668) e Francisco de Lemos Coelho.
Foi Coelho quem tentou encontrar uma resposta para a origem dos Bijagós (Academia Portuguesa de Histórias, 1953). Segundo este mercador e viajante, que teve as oportunidades de se deslocar várias vezes ao arquipélago, os Bijagós teriam originariamente ocupado o continente, até que os Beafadas os expulsaram e forçaram-nas a procurar refúgio nas ilhas. Seria esta razão pela qual estes dois povos estariam continuamente em guerras um com o outro, tendo os Bijagós na altura tomado vantagem sobre os seus anteriores conquistadores.
Na Ilha Roxa (actual Canhabaque), foi à primeira ilha a ser habitada.
Durante o século XVIII, diferentes navegadores da Europa, chegaram ao arquipélago, procurando estabelecer-se. Entre eles encontravam-se os navegadores franceses Mr. Brue, cuja viagem no principio do século relatada pelo padre Jean Baptiste Labat contem muitas informações sobre o povo «Bissagost» (Labat, 1728), e a de M. Le Marechal de Castries, em 1784 relatada por Golbery (1802), que sugeria a ilha de Bolama como melhor lugar para o estabelecimento dos Franceses. Foi, contudo um navegador Inglês o capitão Philip Beaver quem primeiro tentou em 1792 que os europeus se fixassem na parte nordeste da ilha de Bolama, com cerca de duas centenas de pessoas (Beaver, 1968). Tentou com sucesso negociar a posse da ilha, pelo Governo Britânico, com os chefes Jalorem e Bellchore, de Canhabaque. Após dezassete anos de domínio, foi forçado a abandoná-la, devido ao alto índice de mortalidade entre os seus companheiros, provocados pelos contínuos combates com os «Bijuga de Canabac». Segundo relato de Beaver, sabemos que os Bijagós estiveram sempre em guerras com os Beafadas, pelo que houve nenhum caso conhecido em que tenham guerreado entre ilhéus (1968: 340).
No século XIX – depois de tentativa de Beaver em colonizar a ilha de Bolama, outros navegadores ingleses, incluindo o capitão Owen visitaram o arquipélago no inicio do século (Owen, 1833), e segundo Edward Stallibrass (1899), entre 1826 e 1846 vários oficiais britânicos fizeram uma inspeção cuidadosa do arquipélago, com intuito de começarem a fixar. Contudo , em 1870, o interesse britânico pelas ilhas terminou com o reconhecimento por parte do presidente Ulisses Grant dos Estados Unidos de América, dos anteriores direitos dos portugueses sobre o arquipélago.
Para saber, nem através das descrições dos Britânicos, nem das dos Franceses se podem descobrir a origem dos povos Bijagós, mas sim através dos portugueses podemos ter mais informações sobre o assunto. Em 1882, M. M. Barros, um padre nativo da Guiné na altura portuguesa, deu novas explicações sobre a origem deste povo do litoral da guiné, segundo ele, os Bujagos ou Sinjás como lhes chamavam na altura, eram os escravos provenientes das diversas regiões, incluindo no tráfico de Guinála, que conseguiram libertar-se deles e procurar refúgio nas ilhas Bijagós. Perseguidos pelos seus donos até as mais longínquas ilhas de Orango e Caraxe, encontraram finalmente a coragem para combater os seus opressores, os Beafadas. Hoje em dia os Bijagós são descendentes de cruzamentos com os Papeis e a sua cultura foi influenciada por um tipo de vida guerreira, com uma fé profunda na transmigração das almas.
No século XX – Os escritores modernos que estudaram o povo Bijagó mostraram um particular interesse pelas suas características invulgares e de índole mitológica, estes estudos dizem que o povo Bijagó tem mulheres como chefes nalgumas ilhas e que tiverem contactos com povos remotos da Etiópia, da Fenícia e do Egipto (Pereira e Simões: 1914 e 1935 respectivamente).
Segundo Scantamburlo (1991), vale à pena observar que aquilo que os primeiros autores atribuíam à crueldade e barbárie dos Bijagós, atribui-se agora a semelhança mitológicas e pouco aprofundadas com outros povos antigos. E isto por quê? Porque abordando o povo Bijagó, segundo esta tendência comparativa, é muito mais fácil explicar a sua origem, alguns traços invulgares do seu comportamento e estrutura social. Para os autores que tiverem oportunidade de tratar directamente com eles, os Bijagós aparentam ser um povo original, inventivo, pacífico e independente, cuja crueldade para os negociantes estrangeiros era a maneira que tinham para se defenderem de invasões externas.
Os aspectos da sua estrutura sociocultural muitas vezes tão diferentes dos de outros povos da costa da Guiné, podiam ser mais bem entendidos pela sua capacidade de adaptação ao meio ambiente do arquipélago. Posteriormente os Bijagós aprenderam como tirar partido dos diferentes acontecimentos históricos ocorridos na África Ocidental, nos últimos dez séculos, primeiro com os impérios africanos e depois, no século XVI, com o comercio de escravos e com as actividades coloniais.
Se formos ver, na realidade os Bijagós teriam habitado a zona continental, mas, as suas origens advêm de vários grupos étnico-continental como podemos verificar nos escritos de alguns autores como o viajante Adolf Bernartzik, que visitou o arquipélago em 1928 (Bernartzik, 1959), observou que os habitantes de muitas ilhas diferentes apareciam como um único povo que tinha emigrado do continente para o arquipélago pelas razões desconhecidas.
Hoje em dia, uma teoria comum explica os movimentos dos chamados grupo de povos atlântico-continental (Bijagós, Landumas, Balantas, Djolas[1], Baiotes, Papeis, Nalus, Tandas e Konianguis), em direcção à costa da Guiné, pelas migrações para a parte ocidental da África do chamado grupo de povo sudanês como (Fulas, Mandingas e Soninkés), durante os séculos XIII e XV (Maclaud, 1906).
Nos últimos sessenta anos, três autores portugueses tentaram descrever alguns aspectos da vida e cultura do povo Bijagó. Carvalho Vieigas (1937), José Mendes Moreira (1946) e Augusto Santos Lima (1947), que forneceram novas informações sobre a origem deste povo recolhido principalmente da tradição oral. Segundo Vieigas, que escreveu no interesse do chefe militar português, Marques Duarte, os Bijagós são os descendentes dos Tandas da região de Conhangui, na Guiné Conakry. Primeiro teriam fugido para a região de Cacine por causa da oposição e das ameaças dos Fulas e posteriormente ter-se-iam encaminhado para o arquipélago devido à pressão dos Beafadas.
Mendes Moreira diz que os Bijagós são originários da Guiné-Bissau (como os Felupes, Manjacos, Balantas e Papeis) e que chegaram ao arquipélago em tempos muito antigos, sem no entanto adiantar mais informações que explicam de formas profundas a sustentabilidade de origem do povo em causa.
Enquanto que o Augusto Lima outrora administrador português do arquipélago, propôs duas soluções para origem dos Bijagós:
Em primeiro lugar pareceram-lhe ser um povo não muito diferente de outros do grupo atlântico-ocidental da Guiné-Bissau.
Em segundo lugar, lidando com eles era possível falar de sociedades diferentes com tradições diferentes, somente de ilha para ilha. Mas também não só de ilha para ilha, mas, dentro da mesma ilha, por outras palavras, há diferenças geralmente ligeiras entre as tabancas que compõe a mesma ilha.
Este escritor coloca estas duas observações muito próximas de Carvalho Vieigas, que considerava o povo Bijagó dividido em quatro grupos distintos: O de Canhabaque, originários de Conhangui, na Guiné-Conakry e de Bubaque –Sogá –Galinhas, originários de Quinará ocupado agora pelos Beafadas; o de Orango Grande –Orangozinho –Ganogo –Meneg –Uno –Uracane –Eguba –Formosa –Unhocomo – Unhocomozinho, originários de Bandim (ocupado agora pelos papeis e por fim o de Caraxe – Caravela –Ponta –Maio), originário de Biombo e Pexice (ocupado pelos Papeis e Manjacos, respectivamente) (Vieigas, 1936-1940).
Segundo a opinião de Teixeira da Mota em 1974, alguns grupos de povos, os Conhanguis, os Tandas, os Badjarancas, os Beafadas e os Bijagós, estariam fixados na costa da Guiné, antes da chegada dos Mandingas e mesmo antes da chegada dos europeus. Outro elemento muito importante para compreender a origem dos Bijagós é a sua crença, reconhecida já pelo Bernartzik de que pertencem um mesmo povo com os mesmos ancestrais mitológico. O que quer dizer que ele reconhece a ligação do povo Bijagó aos ancestrais mitológico (B. Horaga, Hogwane, Hominka e Horakuma), embora noutras ilhas como por exemplo, na Ilha de Caraxe e Caravela têm mais outras interpretações relactivamente ao assunto, donde tem por além de Horaga, Hogwane, Hominka e Horakuma têm a mais…
As tradições diferentes e as diferenças que encontramos na sua linguagem normal são insuficientes para apoiarem a teoria de diferentes origens para os vários grupos.
As variantes linguísticas e cultural podem ser mais bem explicadas através de diferentes contactos feitos pelas tabancas de uma ilha, durante os séculos passados.
Mas também é de reconhecer que os Bijagós, durante a sua longa história no arquipélago, mantiveram relacções estreita com umas ilhas do que com outras, o que pode explicar o motivo por que podemos considerar cinco grupos principais, de acordo com as semelhanças de traços culturais e linguisticos:
Canhabaque e Bubaque
Sogá e Ilha de Galinhas
Orangos, Oracane
Formosa, Caravela e Caraxe
Uno, Honcomos.
O que não implica necessariamente qualquer diferença primordial na sua origem.
Pois é notório que o bloco que constitui as ilhas de Bubaque e Canhabaque tem pouca diferença no léxico e nas formas de interpretar o mundo Bijagó de formas que nem sempre se nota que um ou outro é duma ilha ou doutra, mas, na realidade podemos aceitar a diferença nas cerimónias de iniciação de fanado assim como nas cerimónias religiosas, embora mais se identificam. Enquanto o bloco de ilhas de Formosa, Caravela, Caraxe, Tchedengha assim como Ghago e ou outras ilhas adjacentes se identificam pelo mesmo traços culturais e de cerimónias tanto religiosos como de iniciação embora nota-se uma ligeira diferença.
Apesar de tantos contactos com os povos de diferentes ilhas, como a questão da originalidade do povo Bijagó pelos escritores de diferentes originalidades e nacionalidades, ninguém deu uma explicação concludente e convergente de como é a origem do povo em questão. Entre os interlocutores, um me tinha dito que nasceram e viram uma cadeira (B. Nepatsh) e o respectivo Orebok (Irã ou guardião da tabanca e consequentemente da ilha). (Scantamburlo. 1991) Da mesma maneira os Bijagós têm muito pouca informações sobre como começou o mundo, explicando segundo as suas interpretações cosmológicas, mas de formas diferentes de boca a boca e de Tabanca para outra e ainda de ilha para ilha. Mas apesar de tudo algo semelhante se consegue permanecer entre eles como ponto de comum embora com um desvio considerável.
Histórias nos disse que o primeiro ser humano nasceu na ilha de Orango-Grande, pelo que tudo alí começou contrariando Francisco de Lemos Coelho que dizia que a primeira ilha habitada foi a ilha de Canhabaque.
Era uma mulher cujo nome não se sabe ao certo, mas depois, o nome foi posto à mãe pelo próprio filho quando dirigia enquanto jazia desesperado e nú na beira do mar, a palavra à mãe dizendo-lhe
« B. Má-ria» querendo dizer com essa palavra «Leva-me» dando origem ao nome Maria.
Essa Maria teve quatro filhos, cujos nomes são: Horaga, Hogwane, Hominka e Horakuma. Como já dizíamos, que são os quatro ancestrais mitológicos de quatro clãs matrilineares (Cr. Djorson). A maioria senão todos os Bijagós estão de acordo com estas tradições, embora com diversidades de opiniões quando se pede mais detalhadas e pormenorizadas explicações sobre o assunto. Daí é que os Bijagós podem estar de acordo com a bíblia no que refere a mãe do Cristo Jesus que também responde pelo nome de Maria.
Segundo Barros, Scantamburlo gostaria de acrescentar que segundo a tradição e histórias familiares os Bijagós são originários de região de Buba no continente, e as primeiras ilhas a serem habitadas de forma cronológica podemos citar a ilha de Canhabaque, Orango, Uno, Bubaque, Formosa e Caravela.
Inicialmente o arquipélago dos Bijagós era ocupado pelos Bijagós, e nessa altura o Orebok estava permanentemente na Candjanghô camoto realizando coisas maravilhosas. O que não mais acontecem devido à presença doutros povos nas ilhas Bijagós segundo as explicações, outros povos vindos de continente interferem com as suas actividades e afectando adversamente as suas relacções como o espírito de Irã.
Numa pesquisa feita Julho de 1997 até Novembro de 2010, na região de Cacheu concretamente nas povoações de Varela mais precisamente nas comunas de Budjoe, Uodjock e Budjugol e Sukudjak, Ernesto Djata tinha fornecido informações de que os actuais Bijagós tinhas pertencido a tabanca de Budjoe e que tinha migrados para o arquipelago nos tempos recuados tendo como objectivo procura de melhores terras de cultivos de arroz, milho, nhames, e outros produtos para a subsistência. Também as questões de protecçao contra os invasores que sistematicamente combatiam-nos na região continental essa migração a procura de terras cultiváveis de segurança, foram fixar nas ilhas Bijagós e hoje o destino lhes separam através do mar. Mas na realidade pertencem a tabanca de Budjoe. As informações completadas por Donist, que disse os Bijagós, segundo as histórias que os mais velhos lhes fornecem, são os irmãos mais íntimos dos Felupes de maneira que só o destino lhes separou.
Numa outra perspectiva de como conectar os Felupes com a originalidade dos Bijagós, seria muito importante explorar as realidades dos dois povos no que respeita as cerimónias de iniciação de fanado assim como fúnebres e culturais.
Num contacto oral com um dos dançarinos de “Konkon”, que dizia que os seus ancestrais lhes historiavam de que os Bijagós não são separáveis dos Felupes, até porque até na altura isto é, no ano 2010, havia cerimonónias que os Felupes faziam só com a presença dos Bijagós das ilhas de Caraxe e Caravela, mostrando os lugares de cultos religiosos e cerimoniais que os Bijagós participavam nas cerimónias com intuito de fazer desatar as cerimónias segundo as suas realidades. Com todos os métodos da pesquisa se chegou a tabanca que se chama Wodjok e Budjugol onde era segundo as informações as tabancas dos Bijagós.
Ainda como testimunhas reais e vivas da pertença dos Bijagós às tabancas de wodjok, Budjoi, Budjugal e Sukudjak, vejamos os locais de culto religioso e de iniciação que hoje em dia os Felupes freqüentam mas com a realização previa de cerimônias pelos chefes Bijagós. Mas com todas essas informações, qual é a razão de os Bijagós terem pronuncias lingüísticas diferentes?
Talvez se pode encontrar a razão quando optamos pela corrente que diz os Bijagós são originários de região de Conhangui nas circunscrições da Republica da Guinée. Pois com isso os Bijagós podem não ter a única proveniência, outros podem ser na realidade aparentados com os Felupes e outros com os Beafadas como defendem outros autores.
Tomando em conta as historias em borá não escritas e passadas de boca a boca pelos nossos mais velhos, com todo rigor e compilação séria, uma analise feita partindo de recolhas de histórias sobre a origem do povo Bijagó, os mais velhos embora sem formação acadêmica como se costuma dizer, sabem um pouco da historias sobre tudo da suas origens.
Atenção quando se diz Djolas, está-se a referir os Felupes, são chamados Diolas na lingua Wolof de Sénégal.
Ser humano neste caso, o Bijagó
Caba de irã da terra
Konkon é uma forma de dança da etnia Felupe que geralmente é reservada a camada jovem, mas nao duma forma exclusiva, o que quer dizer que não só mas sim os mais velhos tambem podem participar nesse tipo de dança.
«Os autores portugueses situam a chegada dos primeiros Fulas ao território da actual Guiné-Bissau em meados do século XV. Os primeiros grupos de pastores nómadas teriam chegado de Ferlo (Senegal) para se instalarem pacificamente no Gabú. Estes pioneiros viviam em paz com as populações Mandiga, Beafada, Bambara e constituem as primeiras colónias. Durante a segunda metade do século XV chega a segunda vaga de Fulas tendo na liderança o seu lendário chefe guerreiro Koli Tenguela. Desta vez, não se fala de imigração mas de invasão de natureza guerreira. Com esta invasão, constituem-se novas colónias, Fuladugús, em Pirada, Pachisse e Chanha. Os Fulas livres (Fulas-Foros) e os Fulas-Pretos fazem parte desta vaga. Hoje em dia, são chamados pelo termo genérico de Fulacundas. Será preciso esperar pelo século XIX para assistir à chegada massiva dos Fulas do Fouta Djallon, que vêm islamizar massivamente os Fulacundas, os Mandigas, os Beafadas, os Sossos e os Nalús. António Carreira (1964) assinala a presença dos Fulas, considerados mestiços de Sereres e de semitas nómadas na Guiné Portuguesa desde o século XVIII.»
A História Política
«De acordo com René Pélissier, os Fulas constituem o “elemento perturbador” da história guineense na segunda metade do século XIX. Este grupo pertence à grande família dos povos que, através de migrações, invasões e sucessivas mestiçagens alterou permanentemente a história da África Ocidental. Os Fulas estão longe de ser homogéneos. Apenas na Guiné-Bissau distinguem-se os Futa-Fulas (Fulas do Fouta-Djallon) que tinham destruído o reino mandiga do Gabú, libertando assim os seus primos, os Fulacundas ou Fulas-Forros, da dominação Mandiga. Estes revoltaram-se contra os seus anfitriões Mandigas que acabaram por expulsar ou eliminar. Os Fulas-Forros, ou pelo menos os seus chefes, conduzem com o apoio dos Almamys (reis) do Fouta Djallon e da sua principal província, Labé, uma intensa política de islamização na Guiné-Bissau. No decorrer da sua expansão, islamizam os Soninkés, os Beafadas e outros grupos animistas. Esta política de islamização não pode ser dissociada da escravização[1] e da absorção cultural de alguns povos conquistados como os Mandigas e os Beafadas que, quando são “fulanizados” e islamizados, se tornam Fulas de “segunda categoria”, ditos Fulas-Pretos[2] ou Fulas cativos.
Após a declaração da guerra santa em 1725, a Federação islâmica do Fouta Djallon organizava frequentemente saques e pilhagens contra as populações fetichistas. Foi por isso que atravessaram várias vezes o território da actual Guiné-Bissau em direcção da Gâmbia, submetendo e convertendo ao Islão as populações derrotadas. Os prisioneiros são levados com o produto das pilhagens para o Fouta onde trabalhavam como escravos.
Entre as mais importantes expedições dirigidas contra a actual Guiné-Bissau assinalamos as campanhas de Koli Tenguela do Corubal Superior; de Abdulai Bá Demba (Almamy Alfaya), por volta de 1804; de Abdul Gadiri contra Niokolo e Gabú; de Almamy Sorya Abubakar contra o Braço (região de Farim) com a formação de um principado em Pachisse e Pakau sob a autoridade de Bokary Koy; a derrota de Almamy Umaru e Ibraima Candjai contra os Fulas Houbbou dirigidos por Mamadú Djué; as expedições contra os reis de Ianguiçaio e Djankê Wali durante a batalha de Turuban, que acabou com a hegemonia mandiga no Gabú e a coparticipação dos Alfas de Labé nas lutas de emancipação entre os Fulas-pretos e os Fulas-Forros em Rio Grande.
A derrota dos mandigas levou ao estabelecimento de uma hegemonia fula. Os Fulas de Foréa, a partir de então chamados de Forros, isto é, livres da denominação mandiga e beafada, assumem o controlo de toda a região de Gabú. Os Almamys do Fouta confiam o comando do Gabú e de Foréa ao chefe Tchikam Embaló, que toma o nome de Alfá Bakar Guidáli, o fundador da família real dos Embalocunda do Gabú.»
(Extraído no livro do Professor Doutor Tcherno Djaló, in O Mestiço e o Poder [Identidades, Dominações e Resistências na Guiné-Bissau], Veja, 2012, Lisboa, p. 70, 71 e 72).
A palavra “escravo” é utilizada aqui no sentido africano do termo. Tendo em conta o seu estatuto sociopolítico na sociedade, seria mais correcto falar de cativo do que de escravo. Os Fulas-Pretos são mestiços mais ou menos “negritizados”, dos quais fazem parte os Jolofs ou Wolofs, os sereres, os antigos Biafadas, os Padjadincas e os cativos mandigas “Machúbê”. Eles invadem os territórios dos Mandigas, dos Cassangas, dos Banhuns e dos Brames, onde se entregam a grandes devastações.
É uma enorme honra para a Academia de Letras e Artes da Guiné-Bissau poder anunciar a admissão, como Académica da ALAB, da escritora Maria Cecília Martins Nunes.